O mito feminino

O LUGAR SOCIAL DA MULHER 

Nós mulheres, protagonistas de nossas histórias sabemos bem o peso quem tem sobre nós, milênios de dominação machista/patriarcal, desde os mitos de criação até os dias de hoje sobre nós recai a culpa da existência do mal, afinal Pandora abriu a caixa, Eva comeu o fruto proibido e seduziu o homem e Lilith não se submeteu. 

PANDORA

Pandora foi criada por Zeus, que deu ordens a Hefestos para que modelasse da terra e água e pusesse voz e força humana, além de feições semelhantes às deusas imortais, com forma de virgem. Depois, todos os deuses colocaram dons na criatura, tanto qualidades como defeitos. Atena lhe ensinou os trabalhos. Afrodite devia lhe pôr além da graça, um terrível desejo e preocupações devoradoras de membros. Ao mesmo tempo em que recebe beleza, possui desejo terrível, configurando sua dualidade boa e má. Hermes, o astuto deus, pôs espírito de cão, que “indica sua capacidade de absorver, com seu ardor alimentar, toda a energia do macho” . Recebeu colares de ouro e flores. Por fim, Hermes colocou em seu peito “mentiras, sedutoras palavras e dissimulada conduta” 
Ela recebeu o nome de Pandora, por possuir todos os dons. 
Após ser enviada a Epimeteu como um presente de casamento, Pandora retirou a tampa do jarro e os males, que lá estavam enclausurados, saíram, dispersaram-se pelo mundo. Cumpriu-se, então, a vingança divina, revelada na figura feminina de Pandora, detentora de um bem divino em forma de presente que se configurou no mal à humanidade 
– tanto ao homem quanto à mulher.

EVA

Eva, do hebraico, “vivente” ou “a que dá vida”, é a primeira mulher, esposa de Adão e mãe dos viventes. Eva “foi feita (literalmente formada) por Deus a partir de uma das costelas de Adão”.
Deus plantou um jardim em Éden no Oriente, onde colocou o homem, impondo-lhe a condição única para sua existência: não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deste modo, para que o homem vivesse em harmonia e em paz, deveria se subordinar a Deus e obedecer a esta condição. Em seguida, Deus disse: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante.” (Gen 2:18).
A mulher, então, pecou e depois deu o fruto ao marido. A tentação da serpente se configura no pecado cometido pela mulher e, em seguida, pelo homem, guiado pela mulher. A primeira consequência desse ato foi homem e mulher perceberem que estavam nus e se esconderam de Deus, porque tiveram medo. Quando Deus os encontra, o homem diz ter recebido o fruto da mulher, e esta dissera tê-lo recebido da serpente. Pelo pecado cometido, todos foram punidos.

LILITH

O demônio feminino, geralmente, é manifestado por meio do espírito de Lilith de acordo com algumas culturas, como a suméria, árabe e outras. Conforme a tradição judaica, Lilith não se entendia com Adão, sobretudo porque não queria estar por baixo dele durante o enlace conjugal. Ela estava insatisfeita, desejava liberdade, mudança e fuga, pois foge para o Mar Vermelho. Nas mitologias a seu respeito, ela é repleta de imagens de desolação, diminuição, vingança e raiva. 
Lilith é conhecida como um demônio noturno de cabelos longos, uma força, um poder, uma renegada e um espírito. Tem aspecto humano, mas possui asas e “sobrevoa as mitologias suméria, babilônia, assíria, canoneia (ou cananeia ), persa, hebraica, árabe e teutônica”. É também popular por agarrar os homens e 
mulheres que dormem sozinhos e provocar-lhes orgasmos noturnos e sonhos eróticos.


Não é possível compreender o lugar social da mulher, sem considerar o contexto histórico que a vincula ao mal, ao pecado a traição e sob tudo a desobediência ao divino.

Pandora na mitologia Grega e Eva na Mitologia Hebraica estão subjugadas a figura demoníaca de Lilith. E todas nós somos herdeiras "do mal primordial". 

"Todas estão submetidas à perspectiva masculina, imposta pelo patriarcalismo, pois Pandora, criada com propósito de vingança de Zeus para com os homens, possui em si o mal que desencadeará a desgraça humana; e Eva, criada com propósito de fazer companhia a Adão, instigada pela serpente, peca quando ambiciona conhecer do bem e do mal, dando início à desgraça humana na terra. Constatam-se então atuações que geram consequências negativas e irreversíveis ao mundo, isto é, possíveis manifestações do espírito de Lilith.  Deste modo, o mito feminino está sempre permeado por essa carga de malefício que Lilith gera, sem serem levados em conta outros aspectos que não sejam tomados da perspectiva patriarcal, pressupondo subordinação e obediência. A figura feminina, de uma forma ou de outra, é ligada ao demoníaco, inferior e oprimido."

Enfim, faço aqui minha homenagem às mulheres que rasgaram mitos e lendas, sartaram das paginas obscuras onde eram personagens, tomando para si a pena o tinteiro e o  papiro para rescrever a história.

Fonte: Ester Zuzo de Jesus http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/anagrama/article/viewFile/6657/6114

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